domingo, 26 de fevereiro de 2012

dessa vez

De dentro do ônibus, observo o desencontro da vida. De um lado, uns indo; do outro, uns voltando.
E penso que é assim mesmo. A dinâmica da vida é feita de partidas e chegadas. E foi isso que aconteceu com a gente.
Eu estava indo com tudo de um lado da pista, de bem com a vida;vidros do carro abaixados e, no rádio, as melhores músicas, ajudando a construir a trilha sonora daquele meu clipe.
Você acenou e eu aceitei em te dar carona.
Era só aquilo que você precisava naquele momento; alguém que te levasse a lugares diferentes dentro de você mesma. Um lugar que sempre tivera, mas que de tão mal frequentado, estava preto e branco.
E andamos por lá horas e dias. Rimos, brincamos, enfim, nos divertimos. E de repente, como num passe de mágica, tudo foi sendo colorido com as cores mais vivas que havia te emprestado.
E pronto, imaginamos mil coisas, fizemos mil planos. Tudo estava guardado no nosso caderno de memórias futuras. Tudo estava pronto, só estava esperando acontecer.
Mas quando percebeu que, sozinha, também poderia continuar colorindo, você, gentilmente, pediu que eu parasse o carro porque queria descer.
Fiquei te observando pelo retrovisor e me perguntando por que resolvi parar para te dar carona aquele dia.
Naquele momento, o que mais me intrigava não era exatamente se estava arrependida em ter parado o carro e ter te deixado entrar, mas sim, por que dei a você todas as minhas cores, as mesmas que hoje a vejo usando com outra pessoa.

(...)

Mas tudo bem. Consigo ver o lado bom de tudo isso e compreendo até o incompreensível.
É bom saber que fiz esse bem para você. Mas só queria que me agradecesse, entende?

Se ainda te interessa: comecei o meu processo de recomeço e comprei um novo carro. Agora é mais equipado e seguro.
Não sei se vai se sentir desconfortável,é que ele tem um sensor de proximidade que apita toda vez que algo que temo, se aproxima e, desde então, ele tem se mostrado bem eficaz.
Se ainda assim quiser, o banco do carona está disponível.
Mas veja bem: dessa vez, entre e não mexa em nada. Dessa vez, eu controlo o volume do rádio; da situação. Dessa vez, se você colocar o volume em um nível que não consiga atingir, imediatamente eu desligo o meu rádio para sempre.
Dessa vez, eu quero observar mais. Dessa vez, eu decido se abaixo ou não os vidros. Dessa vez, eu quem decide a hora da partida.
E dessa vez, principalmente, eu determino se é a hora ou não de frear.