quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Filhos da imprudência

Não imaginava que era assim, tão simples; sem amor.
Eu não nasci da barriga da minha mãe, propriamente dita. Hã? Como assim? É, sou filha adotiva.
Nunca tive problema algum quanto a esse assunto. Desde bem pequenina, minha mãe dizia que eu era filha do coração e meus dois irmãos, da barriga. Cresci com essa idéia até os 3 anos, quando resolvi perguntar aos meus pais o real significado de tudo isso. Achei tão legal a ponto de contar pra diretora da minha escola.
E depois, aproximadamente com 10 anos, entendi verdadeiramente o que era. E passei a dar muito mais valor a meus pais, porque eu sabia que não era fruto de mais uma gravidez indesejada - como é o caso de inúmeras crianças - e sim, de muito, mas muito desejada.
Também nunca tive problemas com minha mãe biológica, não a conheço e minha mãe adotiva, nunca falou muito sobre ela, apenas que a biológica não tinha condições e por isso, me entregou para adoção.
Bom, até ontem, eu não tinha problema algum com esse assunto, até que hoje, junto a uma amiga que está disposta a adotar mais uma criança, fui visitar uma mulher que está grávida, e assim que a criança nascer, será entregue para adoção.
Nunca tinha visto isso assim, tão de perto... E fiquei assustada com a reação da mulher, com a incapacidade de sentir e demonstrar qualquer tipo de afeto pela criança.
E eu não sabia se sentia raiva, pena, ou até mesmo compreensão, por saber que ela não era egoísta, a ponto de deixar a criança morrer por maus tratos ou outras coisas.
Mas, meus pensamentos eram totalmente contraditórios a todo instante.
Porque eu me perguntava: " se ela sabe que não tem condição, seja ela física, psicológica e, principalmente, financeira para cuidar de uma criança, por que engravidar? Por que colocar mais um inocente nesse mundo sem regras, onde todos querem devorar o próximo?"
Então, comecei a me sentir totalmente contra a adoção; de ver que ninguém é obrigado a cuidar do filho de pais irresponsáveis. Mas, ao mesmo tempo, fiquei feliz e me senti totalmente privilegiada por ter pais tão bons, capazes de assumir uma irresponsabilidade alheia.

[...]

E aqui estou eu, tentando achar alguma resposta para o motivo do sorriso de uma mãe que está prestes a se livrar de um peso, literalmente.

13 comentários:

Be.atriz disse...

Acho que tem muitos motivos pra uma mãe não desejar um filho.
Desde problemas sociais, psicológicos até distúrbios biológicos.
Não quero nem gosto condenar uma mulher antes de saber os motivos que ela teve pra não querer a criança, tento não me revoltar com isso.
Mas me revolto.

Suellen Analia disse...

Claro! Motivos, ela tem de sobra!
O problema é me convencer...

Beijos, Bituca!

G. Goulart disse...

Ao meu ver, ela nada mais é do que uma vítima.
Não me revolta nem me causa pena, mas sim um desejo enorme de continuar os meus projetos de agora(estudar estudar e estudar), para mais tarde, quem sabe, conseguir interfirir de modo significativo no agente causador que fez dessa e de tantas outras mulheres "vítimas".

Besocas mi muchacha!

Suellen Analia disse...

Eu vejo a vítma, como a criança!
Enfim...

Beijos,Gabi!
Volte sempre.

Carlos Henrique disse...

Suellen,
Mesmo sem comentar, passo sempre por aqui para ler os seus textos.
Bom... uma vez, conversando com um amigo sobre teologia, curioso como sou, perguntei sobre o conteúdo do curso que ele havia feito. Uma das coisas que ele enfatizou, foi a necessidade de manter a mente aberta, pois as histórias apresentadas sobre os personagens bíblicos, muitas vezes, relatam verdadeiras atrocidades realizadas pelos chamados “Homens Santos”, e como exemplo ele citou algumas do rei Davi. Resumindo, para entender a história daqueles homens é necessário entender o contexto da época, para não deixar que os relatos corrompam a fé.
Como no tempo de Davi, parte da nossa sociedade vive no caos total, cercada por bárbaros, numa cultura bárbara, onde muitos são frutos do meio, outros não. O controle da natalidade é um assunto complexo por ter “N” variáveis, começando pela desinformação, passando por motivos religiosos e outras formas de interferência cultural. Esse é um assunto daria pano-para-manga.
Generalizar os motivos que levam mães a se desligarem de seus filhos é perder a fé nas pessoas. Por amor, tem gente que entrega seu filho, e tem gente que acolhe, com amor em dobro.
Um Abraço a Todos!

Suellen Analia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suellen Analia disse...

Oi, Carlos!
Concordo quando você disse que: "parte da nossa sociedade vive no caos total, cercada por bárbaros, numa cultura bárbara, onde muitos são frutos do meio, outros não".
Infelizmente, ainda permanece por aqui, uma boa parte dde coisas ruins, daquela época...
Ñ creio que eu tenha generalizado, até porque, deixei duas razões(ao meu ver), que poderia levar a tal fato.
E quanto aos pais que acolhem com amor em dobro, foi o meu caso, não tenho o que reclamar,e tenho consciência de tudo isso.
Agora, pense naqueles que não têm o "amor comum", que dirá, em dobro!
Acho que está me faltando fé, sabia? rs

Obrigada e volte sempre.

Um beijão!

Vitor disse...

Achei seu blog por um comentário seu no da Lu (SobrEscrita) e vim ler. Não nos conhecemos, mas tendo em vista que trata-se de algo publicado, não faço cerimônias pra comentar.
Particularmente gosto dos temas que põem em questão a moral. Gosto pois gosto de perverter (Ou tentar), porque isso, creio, é o que capacita as pessoas a pensarem por conta própria, sem dogmatismos. Sem partir do principio se algo é certo ou errado unicamente porque lhe é ensinado assim. Como a mãe que não cria o filho. Creio ser bastante nítido que não existe "amor materno" como condição nata, biológica ou seja lá como for. Amor se produz, não se tem de antemão. Pode-se culpar um sujeito por não conseguir tal coisa? Gosto de pensar que não somos resposnsáveis por aquilo que nos acomete, e nesse saco se enquadram também nossos sentimentos. Somos, sim, responsáveis pelo que fazemos com isso, e mesmo assim ainda existe um certo limite, mas isso é outra história. Na real, é que sendo algo tão fora da vontade ou razão do sujeito, podemos lhe fazer esse julgo moral? Ele está certo? Está errado? É uma pessoa ruim, ou boa? Merece nossa raiva ou nossa compaixão? Tudo isso, engraçado, depende muito mais de nós mesmos do que dele ou do que ele, esse sujeito, tenha feito.
Fico por aqui para ser menos chato, mas volto a visitar você.
:)

Suellen Analia disse...

Oi, Vitor.
Li tudinho e acho que entendi o recado...!
Eu também não gosto de julgar as pessoas. Acho que não podemos julgar ninguém, porque é incapaz de amar... Mas, a escolha do filho, foi dela.
Não citei no texto, mas ela tem outros 3 filhos, um de cada pai.
Se ela não consegue amar um, pra que 3?
Não estou julgando, só perguntando.
Entendo e respeito suas opiniões...Mas, só acho que quem não é filho adotivo, sei lá, por alguma razão, a maneira de ver e pensar sobre esse assunto, é bem diferente.
Eu também gosto de discutir temas como esse, onde a idéia central é só nossa, todinha.
Obrigada pela visita! Volte sempre.

Um abraço.

Vitor disse...

Então, voltando...

Não creio que seja capaz de falar do ponto de vista de um filho adotivo, posto que não o sou. Contudo, Também acredito que nenhum filho adotivo seja capaz de falar do ponto de vista do outro, pois no fim das contas, cada sujeito fala de algum lugar. O que tento fazer é falar do ponto de vista do sujeito (que pretensão... ahahaha), e isso só é possível na medida que nos desvinculamos do moralismo (não estou dizendo que você fez isso. Mas também não estou dizendo o contrário. hehehe) para tentar questionar o porque das coisas. em algum momento você falou sobre egoísmo. Do meu ponto e vista, todos somos egoístas, já que somos sujeitos (porque estamos sujeito a alguma coisa), logo obedecemos a uma orde, um modus operandi, ou afim. Mais do que isso, estamos sujeitos aos nossos próprios gozos. Enfim.
E porque a tal mãe teve um terceiro filho se não dá conta dos outros? Bom, ter um filho tem N funções/razões. Qual será a dela? Em que circunstâncias ela o(s) teve? Disso não temos como saber. Vai que "na cabeça dela faz sentido", como diz uma amiga minha. Existem tantos sentidos para as coisas quanto existem pessoas pra lhes dar sentido. E o mais engraçado é que todos são válidos.

Lu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lu disse...

Suellen, quanta polêmica, hein?!
Passo aqui pra deixar um abraço e dizer que seu blog também tá lá nos meus favoritos!
Quanto à discussão, acho que o importante é pensar que essa criança será querida por alguém. Deseje boa sorte à sua amiga!!!
Bjão!!

Suellen Analia disse...

Oi, Lu!
É verdade... Eu sempre penso nisso!
Algo de bom nisso tudo, tem que ter, né? rsrs

Um beijão e obrigada por passar por aqui!